As Campanhas Abolicionistas do Império (1883-1888)
Autor:
Iracema Santos Medrado
Bacharel
em História pela PUCMINAS
E-mail:
iracemasantos8@hotmail.com
Resumo: este presente artigo tem a pretensão
de descrever a trajetória das campanhas
abolicionistas a ser fundadas a
Confederação Abolicionista e a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, e expor
as opiniões dos abolicionistas Joaquim Nabuco e José do Patrocínio sobre a emancipação
escrava no Brasil. Destaca também os conflitos entre os abolicionistas, tanto monarquistas e republicanos, e o Partido Conservador,
na cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX.
Palavra
– chave: Emancipação – Lei Abolicionista – Imprensa – República.
Abstract: This article intends to describe the trajectory of the
abolitionist campaigns to be founded the Abolitionist Confederation and the
Brazilian Society against Slavery, and to expose the opinions of the
abolitionists Joaquim Nabuco and José do Patrocínio on slave emancipation in
Brazil. It also highlights the conflicts between the abolitionists, both
monarchists and republicans, and the Conservative Party in the city of Rio de
Janeiro in the late nineteenth century.
Keywords: Emancipation - Abolitionist Law
- Press - Republic.
Introdução
O ano de 1883 foi marcado
pelo ressurgimento do movimento abolicionista na Corte, dessa vez muito mais
forte e organizado, com a fundação da Confederação Abolicionista, que tinha
como presidente João Fernandes Clapp e outros associados como Emilio Roude, José do Patrocínio,
André Rebouças, além de membros da imprensa e marinha imperial.
Descendente de imigrantes
norte americano, João Fernandes Clapp fundou uma companhia comercial especializada em
produtos importados ingleses, além de torna-se professor de escolas noturnas
criadas na cidade de Niterói e mantidas por irmandades de negros, que tinha como
objetivo de educar ex-escravos, libertos por carta de alforria ou pecúlio.
Por sua participação nas reuniões
abolicionistas, Clapp foi convidado a ser presidente da Confederação
Abolicionista cujos membros, assim como ele , eram comerciantes e políticos
abolicionistas da província do Rio de Janeiro. Após três meses de
funcionamento, a Confederação tinha fundado dezessete clubes com representação
em cinco províncias do Império, cujo núcleo central era na corte imperial e na
cidade de Niterói.
Portanto em 1883, todos os
representantes desses clubes e associações se reuniram em Niterói, onde buscava
unir as sociedades abolicionistas de todo o país.
Naquele período, na cidade
do Rio de Janeiro, as associações abolicionistas se organizaram dentro de duas
escolas militares, em uma gráfica e na Escola de Medicina.
O Abolicionista José do Patrocínio
e o engenheiro André Rebouças criaram uma comissão executiva, para elaborarem
um documento sobre emancipação escrava que foi apresentado ao parlamento imperial
brasileiro, no ano de 1884, mas rejeitado pelos deputados provinciais.
A
Confederação Abolicionista e a Sociedade Brasileira contra a Escravidão
(1883-1888)
Em setembro de 1885, quando
foi promulgada a Lei dos Sexagenários. Patrocínio apoiou a lei, ao publicar na Gazeta da Tarde, um artigo sobre a
liberdade dos escravos idosos. José do Patrocínio colocou a redação do jornal à
disposição dos defensores da emancipação escravista como o senador Dantas e
membros do Partido Liberal, assim como Barão de Cotegipe, autor da lei. Patrocínio
publicou, também no jornal, um manifesto da Confederação Abolicionista, que
expunha suas impressões sobre a lei dos Sexagenários.
Nesse Manifesto,
Patrocínio criticava as desavenças da câmara imperial em relação às leis
abolicionistas. Destacava também os tumultos causados pelos políticos
escravistas nas sessões pela votação de leis sobre a liberdade dos escravos e finalizou
o manifesto dizendo “que a paz e harmonia na sociedade brasileira só viriam com
a união entre os brancos e os negros, livres do cativeiro”.
Diante da repercussão
causada pelo Manifesto Abolicionista na imprensa carioca e na corte, Patrocínio
e Rebouças criaram o Clube Abolicionista, composto por jovens militares,
intelectuais e políticos abolicionistas que tinham como meta colaboração e
apoio na formação de diversas associações abolicionistas, que buscavam recursos
para comprar de carta de alforria para escravos, além de conseguir a liberdade
de cativos nas fazendas do interior da província do Rio de Janeiro e São Paulo.
Nem todos os recursos foram aplicados somente nesses dois objetivos, mas elaboração
de festas, Quermesses e bingos para que a sociedade carioca apoiasse a causa
abolicionista.
Na Corte, Joaquim Nabuco
também teve importante destaque na ação abolicionista com proposta de
emancipação escrava ao estabelecer a luta abolicionista em nível parlamentar.
Para cumprir esse objetivo, Nabuco reuniu um grupo de abolicionistas entre políticos e intelectuais no Rio de Janeiro, em 1884. Essa iniciativa o levou a fundar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, cujos membros resolveram publicar um jornal, O Abolicionista, para estabelecer contatos com as sociedades antiescravistas da Europa e dos Estados Unidos. A meta da sociedade era buscar o apoio político de estrangeiros, principalmente ingleses e franceses, para o combate à escravidão no Brasil.
Para cumprir esse objetivo, Nabuco reuniu um grupo de abolicionistas entre políticos e intelectuais no Rio de Janeiro, em 1884. Essa iniciativa o levou a fundar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, cujos membros resolveram publicar um jornal, O Abolicionista, para estabelecer contatos com as sociedades antiescravistas da Europa e dos Estados Unidos. A meta da sociedade era buscar o apoio político de estrangeiros, principalmente ingleses e franceses, para o combate à escravidão no Brasil.
Nos estatutos da
Sociedade, Nabuco pretendia ligar o abolicionismo ao patriotismo, ao
identificar nas idéias republicanas nas rebeliões provinciais, como a Revolução
Pernambucana de 1817 uma luta legitima a favor da emancipação gradual da
escravidão, na província de Pernambuco, naquele período.
Os membros da Sociedade
não acreditavam em qualquer ação violenta dos cativos para conseguirem sua
emancipação. Mas sim nos meios legais e corretos dos negros buscarem
pacificamente sua liberdade ao apoiar os políticos do Império. A Sociedade
Contra a Escravidão criticava os políticos e fazendeiros escravistas que
dificultavam a aprovação das leis emancipacionistas no Parlamento.
Os
abolicionistas Joaquim Nabuco e José do Patrocínio
O jornal O Abolicionista, fundado pela Sociedade
Contra a Escravidão, publicou artigos que iniciavam uma campanha de ataque à
legalidade da escravidão em relação à lei de 1831, que libertava os escravos
que adentravam o país através do tráfico negreiro internacional.
Nesses artigos, Nabuco e seus
os colaboradores criticavam as instituições econômicas que se apoiavam no
trabalho escravo e acusavam os traficantes de enriquecimento ilícito através do
tráfico interprovincial. Para Nabuco, esses traficantes eram tidos como uma
minoria privilegiada, sem moralidade ou vida familiar, que se beneficiava do
sistema escravista para obterem grandes lucros com o fim do tráfico negreiro internacional.
Diante desse discurso
emancipacionista, no ano 1884 Joaquim Nabuco foi eleito deputado pelo Partido
Liberal e seus atos fortaleceram a política abolicionista junto ao seu padrinho
político, o deputado pernambucano Jerônimo Sodré.
Nabuco representava a
vitória dos abolicionistas nas eleições no Parlamento de 1884. No dia da sua
posse, discursava tentando mostrar a inviabilidade da preservação da escravidão
para o desenvolvimento da nação. Mesmo com esse discurso, suas idéias eram
ainda de caráter monarquista e legalista, cujo conteúdo criou forte resistência
de uma ala radical do movimento abolicionista, composta por José do Patrocínio
e André Rebouças.
Após as eleições parlamentares,
foi lançado o livro O Abolicionismo,
publicado por Joaquim Nabuco, cujas paginas apontam para suas ideias e opiniões
acerca da Sociedade Contra a Escravidão que apontam que a abolição da
escravidão deveria ser feita através das leis parlamentares. Nabuco dizia que
o abolicionismo afetou o partido
conservador de um modo profundo e a nenhum fez tanto bem. Foi a lei de 28 de
setembro de 1871 e a idéia, adrede espalhada entre os fazendeiros, de que o imperador
era o chefe do movimento contra a escravidão, que de repente engrossou as
fileiras republicanas com uma leva de voluntários saídos de onde menos se
imaginava. (NABUCO,
2000, p.8).
Nesse comentário, Nabuco
fazia referência aos escravistas e liberais que se filiaram ao Partido
Republicano, em oposição ao Império. Alegava que os republicanos só
participaram efetivamente da campanha a favor da liberdade dos cativos após a
promulgação da Lei do Ventre Livre, lei que foi obra do Partido Conservador e
repudiada pelos liberais.
Nabuco acreditava que a
nação brasileira perceberia que a elite mais influente e poderosa do estado,
não poderia ser exposta à barbárie e à selvageria. Defendia que os negros não
deveriam se envolver no seu próprio processo de libertação e, portanto,
deveriam ser excluídos da campanha abolicionista. Nabuco pensava que era
perigoso que a população mantida como bárbaros nas senzalas participasse de um
ato tão importante como a emancipação, pois considerava ser perigoso criar um
partido abolicionista ou permitir a participação de libertos na política do
Império.
Para Nabuco a idéia dos
negros na política traria o caos e incitaria uma insurreição dos cativos contra
seus senhores, contrariam o ideal da Confederação Abolicionista e outros
abolicionistas como Patrocínio, que acreditavam na criação de um partido de
negros, conforme foi proposto pelo mesmo, na fundação da Guarda Negra, algum
tempo depois.
Segundo Nabuco, a
consciência política do liberto o induziria ao crime e à revolta contra a elite
representada pelos fazendeiros escravistas. Um partido político somente com
libertos levariam a elite agrária a agir contra os escravos rebeldes. Eles
seriam punidos pelas leis imperiais e conseqüentemente sofreriam todas as
formas de repressão, ao subverter a ordem na sociedade escravista.
Essa previsão de Joaquim Nabuco
se concretizou com as ações de ex- escravos nas fugas nas fazendas, massacres
de senhores brancos e nas fundações de
maltas e irmandades que incitaram a violência no Rio de janeiro no final da década
de 1880.
Os artigos de José do
Patrocínio, no jornal Gazeta de Noticias,
em 1885, eram favoráveis às idéias de Nabuco com relação à ação política
dos abolicionistas, pois acreditava que a “vitória do abolicionismo era o ideal
que os abolicionistas esperavam alcançar através das leis e da ordem social”.
Patrocínio dizia que os abolicionistas como Nabuco tiveram abnegação igual aos
políticos na corte na emancipação dos cativos.
Alguns anos depois, no
jornal Cidade do Rio, em 23 de Abril
de 1888 ,Patrocínio publicou artigos em que concordava com
as idéias de Nabuco contidas no livro O
Abolicionismo, mas com outro ponto de vista em relação às idéias
republicanas e sua oposição a Nabuco sobre a presença de negros na política.
Ao contrário
de Nabuco, Patrocínio pensava que a campanha abolicionista e as ações de
emancipação eram direcionadas a participação dos escravos em sua própria liberdade.
Essa visão divergia das idéias de Nabuco sobre o republicanismo e o
abolicionismo.
Patrocínio se
opunha a Nabuco ao afirmar que seu envolvimento na política imperial estava
vinculado à sua atuação como abolicionista, pois abolicionismo defendido por ele
pregava a participação popular de negros alforriados, além de pressionar parlamento
ao votar as leis emancipacionistas, vital para o progresso da nação.
O Partido Republicano do Rio de Janeiro e o Abolicionismo
O Partido Republicano do Rio de Janeiro e o Abolicionismo
No entanto, na década de
1880, o próprio Partido Republicano se afundava numa crise, polarizada entre
dois grupos distintos que disputavam a liderança do mesmo em nível nacional.
Quintino Bocaiuva e Antônio Silva Jardim lideravam grupos com ideologias distintas, em
meio à causa republicana.
No Congresso Republicano,
no Rio de Janeiro, em 1881, Quintino Bocaiúva censurava alguns
correligionários, que se mostravam mais republicanos do que abolicionistas,
enquanto Silva Jardim não admitia que o partido se envolvesse na causa
abolicionista. Para esse último o partido não deveria ficar em meio a duas
reivindicações prioritárias: Abolição e República.
A escolha dos republicanos
deveria ser direcionada para a derrubada da Monarquia mediante apoio popular. Mas
Bocaiúva achava que as duas causas eram interligadas, pois não se justificava
que o Partido defendesse a liberdade e o progresso da nação, diante de uma
maioria ainda em estado de escravidão. Para ele, não existia republicano que
não fosse abolicionista.
Por outro lado, Silva Jardim, um jovem político do Rio de Janeiro, era mais impetuoso e não aceitava o ritmo lento que o partido adotava frente ao abolicionismo e à crise do Império.
Por outro lado, Silva Jardim, um jovem político do Rio de Janeiro, era mais impetuoso e não aceitava o ritmo lento que o partido adotava frente ao abolicionismo e à crise do Império.
Visto que era
importante que os partidos aderissem à campanha abolicionista para abolir a
escravidão em todas as províncias do Império, a Confederação Abolicionista e a
Sociedade Brasileira contra a Escravidão pediram o apoio de uma ala liberal do
Partido Republicano, favorável à emancipação escrava. Esse apoio foi dado por
Quintino Bocaiúva e Silva Jardim, nas conferências abolicionistas e na criação
de clubes republicanos emancipacionistas.
As conferências
abolicionistas de Nabuco e Patrocínio, com o apoio do Partido Republicano,
promoveram espetáculos públicos na cidade do Rio de Janeiro, para arrecadação
de fundos a favor da emancipação escrava.
Segundo Conrad (1978), as
reuniões dos abolicionistas eram caracterizadas pela oratória dos
abolicionistas, com intervenções literárias e números musicais, como José do
Patrocínio e Nicolau Moreira, conhecidos pelo público como grandes oradores e
incentivadores da causa abolicionista.
Entre 1883 e 1885, houve total cobertura do
jornal Gazeta da Tarde aos eventos, que
noticiava toda a primeira fase da campanha em prol dos cativos. No entanto,
a presença de alguns membros do Partido Republicano Carioca nas conferências
abolicionistas levou seus principais dirigentes, como Saldanha Marinho, a
apoiar a idéia de emancipação, apesar da ala escravista do partido repudiar a
presença dos abolicionistas republicanos, como Silva Jardim e Quintino Bocaiúva,
nos comícios no Rio de Janeiro.
O Partido
Republicano do Rio de Janeiro, a partir de 1885, se apresentou como cooperador
para a causa abolicionista, mas Patrocínio e Nabuco criticavam alguns
correligionários do partido, afirmando que não eram sinceros na adesão a causa
emancipacionista, pois queriam somente que o Partido tivesse o apoio popular,
pois os verdadeiros abolicionistas,
queriam conciliar todas as classes, e não
dispor umas contra as outras, que não pedem a emancipação no interesse somente
do escravo, mas do próprio senhor, e da sociedade toda; não querem instilar no
coração do oprimido um ódio que ele não sente, e muito menos fazer apelo a
paixões que não servem para fermento de uma causa, que não se resume na
reabilitação da raça negra, mas que é equivalente, como vimos, à reconstituição completa do país. (NABUCO, 200, p. 17).
A ala do Partido
Republicano composta por republicanos escravocratas, apoiados por Silva Jardim,
não admitia o envolvimento de seus colegas na questão abolicionista. Na
verdade, queriam o afastamento dos abolicionistas republicanos, pois defendiam
uma postura mais conservadora do Partido. Jardim não admitia ter como membros
do partido mulatos e ex-escravos, apesar de sua longa amizade com Patrocínio.
Pouco tempo depois, Silva
Jardim e seu grupo são isolados do partido, sem uma adesão expressiva de novos
correligionários e sem o apoio de São Paulo. A população do Rio de Janeiro
ainda rejeitaria o Partido Republicano, pela simpatia conquistada pela
Monarquia, graças à Lei Áurea.
O
Partido Conservador e a Confederação Abolicionista
O senador João Mauricio Wanderley , Barão de Cotegipe, do
Partido Conservador, se postou contra a abolição ao desenvolver uma política
totalmente escravista e anti - emancipacionista. Com manobras no gabinete imperial,
conseguiu impedir a aprovação do projeto Dantas, em sua versão integral, que
pedia emancipação imediata dos escravos acima de trinta anos. Em seu lugar foi
aprovando, junto ao parlamento, algumas modificações, a Lei dos Sexagenários
apresentado pelos Senadores Saraiva e Barão de Cotegipe até sua homologação em
1885.
As mudanças anunciadas
pela vitória do Partido Conservador nas eleições em 1886, levou à repressão ao
movimento abolicionista e a criação de leis mais rígidas contra os crimes
praticados pelos escravos.
Com a ascensão do gabinete
Cotegipe e o domínio do partido conservador na política imperial, os
abolicionistas foram objetos de críticas e de agressões físicas por parte dos
escravistas, cujo alvo era a redação dos jornais abolicionistas e seus
colaboradores.
Os repórteres da Gazeta da Tarde tiveram seus direitos
desrespeitados, como membros da imprensa, além de poderem presenciar as sessões
parlamentares. Como punições aos artigos publicados a favor da emancipação
tiveram os exemplares do jornal, ao retornarem das tipografias, no interior, extraviados.
Esse ato do gabinete
Cotegipe fez com que Patrocínio reiniciasse com mais vigor a campanha
abolicionista. Em um artigo nas paginas da Cidade
do Rio, Patrocínio protesta, destacando que
Hoje toda a imprensa limpa
do país protesta uníssona contra os abusos, desmandos e crimes do Gabinete e o
imperador responde-lhe, dando cada vez mais força ao Sr. barão de Cotegipe, que
à semelhança dos antigos déspotas governa, tendo à cabeceira o médico, o padre
e o carrasco. O imperador, em vez de revoltar-se contra este
sistema de governar, o acoroçoa. Dizem que ele tranqüilizou o país, porém nunca
a propaganda abolicionista foi tão violenta, nunca os interesses dos
proprietários de escravos estiveram tão ameaçados, por isso que só resta ao
Governo o caminho da violência e este é também o caminho da revolta, e que
revolta! a das classes educadas fora da liberdade. Por que
sustenta o imperador este Ministério?
[...] A
verdade é esta: o imperador quer manter por longos anos inimigos em face um do
outro, o senhor e o escravo, matar um pelo outro. (Cidade do Rio, 21 ago. 1886).
Para desestabilizar o
gabinete Cotegipe e os escravistas, Patrocínio publicou na Gazeta da Tarde, artigos sobre os maus tratos sofridos por duas
crianças negras Eduarda e Joana, entre cinco e
seis anos, por sua proprietária, Francisca da
Silva Castro.
O artigo publicado no jornal
acusava essa senhora por maus tratos ao expor os danos sofridos pelas crianças,
mostrando-as publicamente. A população fica indignada com as fotos das crianças
com sinais de espancamento e desnutrição, que contrariava a lei do ventre
livre, pois a proprietária D. Francisca recebia benefícios do governo imperial
para custear a alimentação e moradia das mesmas até a idade de oito anos.
A denúncia feita pela Confederação
Abolicionista não conseguiu punir criminalmente a senhora Francisca da Silva
Castro. No entanto as crianças ficaram livres, mas uma delas, Joana, faleceu
por causa dos maus tratos.
Apoiado pelos escravistas,
diante da repercussão deste caso, a ação do gabinete Cotegipe contra os
abolicionistas foi rápida. Mandou a policia empastelar os jornais
abolicionistas e republicanos que se opunham ao seu governo. Patrocínio não
poupa criticas a essa repressão aos abolicionistas, e, no artigo da Gazeta da Tarde, condenou o governo pela
repressão aos amigos abolicionistas, ao apontar o ministério Cotegipe como um
Governo da escravidão, o Ministério é a
encarnação da barbaria; não trepida em assalariar delatores, como não hesita em
proteger assassinos. As cenas selvagens de Campos não são
senão o primeiro ensaio da tragédia, que vai ser representada em todo o país.
Aos assassinatos de
Luís Fernandes e do imortal Adolfo Porto, seguir-se-á o de Carlos de Lacerda e
ao deste o de todos os abolicionistas, cuja palavra o Governo sabe que não
emudecerá senão pela morte. Um cadáver de mais ou de menos não
faz mover a balança de consciências que se servem de três séculos de crime como
peso para os seus atos. O Governo já não se julga obrigado
sequer a recatar-se.
Apraz-lhe a nudez da saturnal. Põe
cabeças a prêmio; aponta os réus que quer punir. Não tem mais
em atenção as simples formalidades da lei: suspende os direitos constitucionais
e veste a morte com a toga do magistrado.
Na embriaguez do crime, não repara que
deixa pegadas indeléveis na história, apesar da astúcia que emprega para
ocultar a sua mão traiçoeira e ensangüentada. (Gazeta da Tarde, 5 fev. 1887).
Além de proibir comícios e manifestações a
favor da abolição, Cotegipe deu também continuidade à sua política escravista,
proibindo reuniões públicas dos abolicionistas. Uma reunião no Clube
Abolicionista foi dissolvida pela polícia da cidade do Rio de Janeiro e vários
abolicionistas foram ameaçados de prisão. Alguns jornais são empastelados nas
cidades de Campos dos Goitacazes, Vassouras e Niterói.
Esses fatos e as denúncias
de arbitrariedade presente nas prisões e fechamentos de jornais abolicionistas
provocaram uma imensa pressão da imprensa carioca sobre o governo imperial, que
levou a princesa Isabel a se pronunciar sobre a questão abolicionista.
Em plena campanha
abolicionista, entre os anos de 1887 e 1888, José do Patrocínio, com o apoio econômico
dos familiares de sua esposa comprou o prédio
e a redação do jornal Cidade do Rio. A
partir desse período, Patrocínio passou reorganizá-lo, cujo objetivo era criticar
publicamente o gabinete Cotegipe e a Princesa regente Isabel. Nas páginas do
jornal, ambos eram alvos de injúrias e críticas sobre a não emancipação dos
escravos.
O Sr. barão de Cotegipe dá prestígio ao
Governo? Sustentar Santos, no Estado Oriental, o Sr. barão de
Mamoré e os Domicianos da Paraíba do Sul, no interior, é título para alguém se
conservar no Governo? Qual é o homem superior que o imperador
teme desgostar, desgostando o Sr. barão de Cotegipe e quais são os interesses,
além dos da escravidão, efetuados pela demissão desse Gabinete, cujos ministros
não sabem nem ao menos falar corretamente a língua maternal? (Cidade do Rio, 21 ago. 1886).
Já no ano de
1888, com a aparente adesão da princesa regente Isabel ao abolicionismo e a
dissolução do gabinete Cotegipe, Patrocínio apontava divergências entre
Cotegipe e a Regente diante os projetos de emancipação escrava.
O fato de que a própria
Princesa, largamente noticiado nos jornais, aderir ao movimento de libertação
dos escravos, de Petrópolis, fez crescer a expectativa de que a abolição se
fizesse ainda em 1888. Era o inicio de conflitos entre a Regente e o gabinete
antiescravista de Cotegipe.
Observai através da
História, Senhora, que o povo só se impacienta depois de sofrer resignadamente
longos anos. Nunca se viu formar-se instantaneamente uma opinião, que ameace
instituições. Demais, há no povo uma força, que por isso mesmo
que lhe garante a vitória, preserva-o da sofreguidão injusta: é o bom senso. Sempre que o povo combate uma instituição, é que ela é realmente
má e deve desaparecer. O Ministério Cotegipe foi violentamente
combatido, porque ele representava uma instituição degradante: - a escravidão.
A ousadia
de propor-se um ministério a resistir a mais acentuada aspiração de um povo,
demonstrava que ele só podia fazer um Governo de facção. Obcecado
pela idéia fixa de vencer o abolicionismo, o Gabinete comprometeu sua política
e a sua administração. (Cidade do Rio,
12 mar. 1888).
Considerações finais
Com a promulgação da Lei Áurea
em 13 de maio de 1888, a Confederação Abolicionista encerrou suas atividades,
mas José do Patrocínio continuou com seus trabalhos sobre emancipação escrava
ao direcionar suas ideias abolicionistas na criação a Guarda Negra. Passou a adotar
um fanatismo monárquico, que o afastou de antigos colaboradores abolicionistas
e membros da imprensa do Rio de Janeiro.
Joaquim Nabuco dissolveu a
Sociedade Brasileira pela Escravidão, mas criticou politicamente a monarquia por
não promover a indenização dos escravistas que perderam suas riquezas com o fim
da escravidão.
O novo gabinete imperial
de João Alfredo e o partido conservador não conseguiram contem a adesão dos
escravistas ao republicanismo.
O partido Republicano do
Rio de Janeiro perdeu sua força política perante os membros de São Paulo ao
apoiar a causa abolicionista. Seus principais políticos como Rui Barbosa,
Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo se afastaram publicamente dos monarquistas
como Joaquim Nabuco, Andre Rebouças, José do Patrocínio e outros colaboradores
do passado.
A Campanha abolicionista
chegava ao fim, mas a republica que se expandiu com a fim da escravidão. O
republicanismo se fortaleceu e com o apoio militar desencadearia o ocaso do
Império e o golpe contra a Monarquia a partir de 1889.
Referências:
MAGALHÃES
JUNIOR, Raimundo. A vida turbulenta de José do Patrocínio. Rio de Janeiro: Sábia, 1969.412 p.
_________________.O Abolicionismo. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2000, 183 p.
Referências:
ALVES, Uelinton F. José do Patrocínio, a
imorredoura cor do bronze. Rio de Janeiro: Garamond, 2009, 295 p.
BARBOSA,
Rui. Campanhas jornalísticas. Império, 1869-1889.
Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa, 1956.245 p.
BARMAN,
Roderick J. Princesa Isabel do Brasil: gênero e
poder no século XIX. trad.Luiz Antônio Oliveira Araújo.São Paulo: Editora
UNESP,2005.
CARVALHO,
Carlos Delgado de. História da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretária Municipal de Cultura. 1990.126p.
Disponível em:
< www.rio.rj.gov.br/arquivo/historia/id/81923/1/volume2.pdf>.
Acesso em: 05 fev. 2009.
CONRAD,
Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil (1850-1888).
trad. Fernando de Castro Ferro. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1978.380 p.
GUILHON, Orlando
José. José do Patrocínio. São Paulo: Editora Três, 1974.169 p.
MACHADO,
Humberto Fernandes. Intelectuais, imprensa e abolicionismo no Rio de Janeiro. XXIV Simpósio Nacional de História, ANPUH, 4, 2007, São Paulo. Associação Nacional de História.Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense,2007. Disponível em: <www.scielo.org.br >
Acesso em: 01 dez. 2009.
MORAES,
Evaristo de. A Campanha Abolicionista -
1887-1888.2.ed.Brasília: Edit. Universidade de Brasília, 1986.380 p.
NABUCO, Joaquim. Um estadista do Império. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar S.A, 1975,1141 p.
ORICO,
Osvaldo. O Tigre da Abolição. 3. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977,320
p.
PATROCÍNIO,
José do. A Campanha Abolicionista:
coletânea de artigos. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1996.
340 p.
PESSANHA,
Andréia Santos da Silva. O Paiz e a
Gazeta Nacional. Imprensa republicana e abolição. Rio de Janeiro 1884-1888.
2006. 212 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal Fluminense. Programa
de pós - graduação em História.
SILVA, Leonardo Dantas. A Imprensa e a Abolição. Recife:
Massangana, 1988,164 p.
SOUZA,Cleuber Castro.O abolicionismo de José do Patrocinio: a
ação politica na imprensa(1880-1889),2005,190 f. Dissertação
(Mestrado).Universidade Federal de Brasilia.
TREVISAN,Leonardo.Abolição:um suave jogo politico.São
Paulo:Moderna,1988,55 p.
VENÂNCIO,Renato Pinto (org).Panfletos Abolicionistas: o 13 de maio em versos. Belo Horizonte : Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais,
Arquivo Público Mineiro, 2007,124 p.
Comentários
Postar um comentário